quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Desejo(s)

Estou aqui mais uma vez. Abandonei outro projeto importante pra expressar esses questionamentos. O que nos torna tão diferentes um do outro sendo que temos o mesmo molde? Seríamos nós mesmos tão únicos quanto pensamos vez ou outra? Talvez nunca tenhamos uma explicação que faça realmente sentido. E nem falo de uma explicação científica, filosófica ou religiosa, e sim de uma resposta que convença unicamente a cada indivíduo que a esteja procurando. Há muito além de água, carbono e todas as reações químicas e fisiológicas envolvidas na nossa composição. Penso que no último suspiro a resposta realmente seja mostra num telão igual a uma abertura de Star Wars. Até lá, estamos apenas numa jornada rumo a nós mesmos. Não somente rumo a quem somos, mas em direção da morte. A dadiva da vida é morrer.
Confesso que tenho pensado bastante nesse ponto em específico. Não é nada especial ou de grande valia pra comunidade de intelectuais, só que a minha questão é importante porque ela é a minha questão. Percebe a importância da individualidade? É tão complexa quanto a própria existência. Esse é o único momento em que acredito num destino determinístico. Cabe ao meu eu viver e deixar morrer sem que o peso da mão invisível me conduza até esse fato. Quem sou eu e o que me diferencia da mesma pessoa que fui há alguns dias? A morte é importante, afinal.
Indo um pouco longe, lembro que a nossa relação era muito romântica, e hoje a considero muito equivocada. Tudo que nos convence pode nos cegar. A incerteza nunca foi tão preciosa, só que ficar cego também faz parte do processo. Esse meu momento já poderia ter sido experienciado enquanto eu estivesse de passagem no barzinho mais sujo e estranho do bairro. Eu olharia uma última vez para o conteúdo dentro do copo, amarelado e espumando, ouviria o som da música ao vivo feita pelos meus colegas bêbados, e daria um beijo na mulher mais cobiçada e temida da região. Totalmente sem pudor ou preocupação, já consumido por doenças sem cura e pelo amargor do meu ser, eu passaria dessa antes dos vinte e com um grande sorriso no rosto. A realização de ser quem você é muda tudo. Somos totalmente cíclicos.
Agora eu sinto uma dor. Quem dera fosse somente uma dor sentimental… É física. Às vezes, eu penso que o meu coração está prestes a explodir, e é exatamente nesse momento que tenho vontade de escrever pra minha família e algumas pessoas que considero especiais. Creio eu que esse não seja o texto que eu sinta vontade de escrever nessas situações, mas deixo aqui registado o desejo. Quem eu quero enganar, afinal? A minha escrita é minha e eu a faço pra aliviar os meus próprios demônios. Se pra fulano eu sou X e pra ciclana sou y, nada do que conste nas escrituras mudará um julgamento tão profano. É profano porque atinge a alma sem pedir licença ou perguntar se quero tomar um café antes de começar a ser espancado. Quem chega com delicadeza? Somente você pra consigo mesmo, essa é uma das grandes verdades.
Hoje eu peguei a estrada e olhei pro sol lá no alto do horizonte. Você também chama céu de horizonte? Às vezes eu acho que essa minha convenção é só besteira. Voltando ao sol: o persegui até o meu destino e ele continuou no mesmo lugar. Isso já foi objeto de estudo por grandes físicos e alvo de diversas confabulações de poetas. Não só vitamina D, ele também traz um calor que vai além dos raios ultravioletas na nossa epiderme. É o calor da imponência de parecer que se conhece e sabe exatamente o que fará dia após dia. Quando eu morrer, quero virar um astro tão lindo quanto ele… Ou talvez até mesmo um mar porque os mares também possuem a mesma característica. Aceito ser até um rio, um córrego ou um fino fio d’água que corre em direção a algo ou alguém. Ou até mesmo rumo ao nada, tal qual eu ou nós.
Quero existir.



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