Carta aberta pra você.
Há quase um ano nós tivemos a nossa
última noite juntos. E, há quase um ano, ninguém me tocou com tanta ternura e
amor como você naquela noite. Tudo foi há quase um ano e eu ainda posso sentir
o teu olhar me fotografando, bem como o teu sorriso que tanto me derretia (e
ainda derrete) inteiro por dentro. Há quase um ano eu perdi muito mais do que
um baita mulherão... Eu perdi uma irmã, a minha melhor amiga, um brother. Parece que foi ontem, mas tudo
foi há quase um ano. Ainda lembro, que há quase um ano, estávamos assistindo Stranger Things jogados na sala: você
comendo o seu lanche versão kids (que
nunca conseguia comer tudo e sempre sobrava pra mim), e eu comendo o maior
lanche possível do estabelecimento que gostávamos de pedir. Há quase um ano eu
venho vivendo numa realidade totalmente sem cor. Aqui, nessa realidade, todos
foram pintados de negro e eu não posso enxergá-los, muito menos eles a mim. Há
quase um ano eu venho tentando sobreviver com uma lanterna que achei jogada
numa caixa empoeirada. É um labirinto sem tamanho que estou percorrendo, e
várias vezes a lanterna falha, pisca mais que as luzes no Natal, só que no
final ela ainda sobrevive. A luz não é tão forte, mas sei que ela não se
apagará. Há quase um ano e eu ainda sinto o que senti quando me abri pra você
pela primeira vez. Acho que foi no lago da universidade, a gente estava na
grama e eu chorava e te abraçava porque era tudo muito lindo e eu só queria me
fundir a você: de corpo e de alma. Há quase um ano eu não posso dividir o meu
dia a dia contigo: nem minhas tristezas ou as alegrias. Há quase um ano eu não
sei o que é trocar um sorriso sincero (mesmo eu não sabendo sorrir). Há quase
um ano, os nossos planos tiveram que ser engavetados no plano real. Há quase um
ano eu me aposentei do back vocal dos
Macacos do Ártico, e também deixei de assistir as Vídeo Cassetadas do Faustão.
Se pá, um dia cê for até a Argentina e, se pá, lembre, remotamente, que era um
dos nossos destinos quando as coisas melhorassem... Há quase um ano eu desejo
que as coisas aconteçam graciosamente nas nossas vidas. O lápis em minhas mãos
furou diversas páginas abaixo do que acabei de escrever. As palavras estão
borradas pelas lágrimas que ainda vem ao lembrar que você já não está mais ao
meu lado (toda encolhida, pois sou espaçoso) toda vez que acordo. Essas
lágrimas surgiram há quase um ano. Há quase um ano eu venho vivendo uma
eternidade sem você.
Rodrigo.
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