Caminhando deliberadamente
e sem rumo, o Viajante Temporal parecia querer esquivar-se de toda e qualquer
forma de vida. Na avenida congestionada duma sexta-feira atraente, os carros
buzinando e com motoristas xingando, as pessoas conversando e rindo em bando – outras
até com fones de ouvido e imersas em seus smartphones – e as propagandas brilhantes
nas vitrines com propostas atraentes, porém com produtos ultrapassados, ficaram
totalmente em segundo plano enquanto o nosso personagem principal estava
tentando, entre tantas outras alternativas, acabar com a sua
(vida)
dor e libertar-se de tudo. Os sons
das buzinas eram convertidos em estática mental quando captadas por ele,
enquanto as pessoas viravam apenas borrões opacos e sem foco num plano de fundo
com as luzes brilhantes num caleidoscópio psicodélico e violento.
Um
maluco descuidado e de patins trombou com ele na calçada quando estava tentando
se recuperar da manobra não muito bem sucedida, caindo logo em seguida. Com
cordões de prata enormes em forma de cifrão e os olhos pintados dum preto
intenso, o jovem loiro e gótico tateou no chão em busca do seu celular que
começara a tocar. O baque acabou despertando o Viajante, que olhou com imparcialidade
praquele jovem descuidado e continuou andando, mas agora com maior velocidade.
Entretanto, o toque do celular dele era uma música bastante marcante em sua
vida e o fez recordar, com bastante relutância, o que estava buscando.
Agora,
o seu carro estava estacionado a menos dum minuto dali, mas aqueles pensamentos
tão ínfimos o tomaram por quase uma eternidade. Sorriu e entrou no carro. Poderia mesmo ter sido uma eternidade,
pensou ele. Ligou o rádio, e adivinhem só?! A mesma música. Contemplou a
plenitude de olhos fechados e descobriu que sempre a encontraria dentro de si próprio.