sábado, 28 de fevereiro de 2015

Caminhos e Maneiras

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Caminhando deliberadamente e sem rumo, o Viajante Temporal parecia querer esquivar-se de toda e qualquer forma de vida. Na avenida congestionada duma sexta-feira atraente, os carros buzinando e com motoristas xingando, as pessoas conversando e rindo em bando – outras até com fones de ouvido e imersas em seus smartphones – e as propagandas brilhantes nas vitrines com propostas atraentes, porém com produtos ultrapassados, ficaram totalmente em segundo plano enquanto o nosso personagem principal estava tentando, entre tantas outras alternativas, acabar com a sua
(vida)
dor e libertar-se de tudo. Os sons das buzinas eram convertidos em estática mental quando captadas por ele, enquanto as pessoas viravam apenas borrões opacos e sem foco num plano de fundo com as luzes brilhantes num caleidoscópio psicodélico e violento.
            Um maluco descuidado e de patins trombou com ele na calçada quando estava tentando se recuperar da manobra não muito bem sucedida, caindo logo em seguida. Com cordões de prata enormes em forma de cifrão e os olhos pintados dum preto intenso, o jovem loiro e gótico tateou no chão em busca do seu celular que começara a tocar. O baque acabou despertando o Viajante, que olhou com imparcialidade praquele jovem descuidado e continuou andando, mas agora com maior velocidade. Entretanto, o toque do celular dele era uma música bastante marcante em sua vida e o fez recordar, com bastante relutância, o que estava buscando.

            Agora, o seu carro estava estacionado a menos dum minuto dali, mas aqueles pensamentos tão ínfimos o tomaram por quase uma eternidade. Sorriu e entrou no carro. Poderia mesmo ter sido uma eternidade, pensou ele. Ligou o rádio, e adivinhem só?! A mesma música. Contemplou a plenitude de olhos fechados e descobriu que sempre a encontraria dentro de si próprio.