Transcendi
todas as leis da física naquele momento, disso eu havia certeza. Momento esse
em que fechei os meus olhos e fui teletransportado: mental e fisicamente. Ao
abrir os olhos novamente, só conseguia enxergar os teus. Vagueei na imensidão
infinda do teu olhar enquanto ouvia as ondas quebrando nas rochas.
Estava
descalço e sem blusa, mas nada mais importava quando a verdade era que estava
com a alma desnuda. Não fazia diferença alguma vestir ou não aquelas roupas.
Não fazia sentido rotular tudo, e refutava todo e qualquer lampejo de
pensamento sobre isso. Entretanto, gravados em seu coração, carregava duas
metades que brigavam constantemente: a primeira era cheia daquilo que “um dia
poderia ter sido”; e a segunda transbordava esperanças vãs de um dia ainda
tê-la consigo. Eu sou o caos.
Dia após
dia, pegava-se com aquelas duas metades fundidas numa confusão mental. Era
subversivo ir contra isso. Eu devo ser
subversivo. Percebi tarde demais que o teu abraço era um santuário pra minh’alma
repousar. E o que eu fiz com isso? Disparei
em retirada como se a minha vida dependesse dessa fuga. E o que eu faço com
o que me tornei? Fugir já não é mais uma
opção. Desculpa o egoísmo, mas eu penso se você acreditou que todas as
tentativas de te ter comigo mais uma vez foram reais. Já revivi essa novela
várias e várias vezes na busca de alguma solução. Felizmente ou infelizmente, entendi que a solução não era essa.
Abri os
olhos e realmente enxergava os teus. A areia em minha pele causava uma sensação
engraçada e gostosa de formigamento. Teus olhos e a tua boca me contaram as melhores histórias
que um dia eu sequer cheguei a imaginar. Os levava sempre comigo. Consegui me
levantar aos poucos. Os pássaros voavam tranquilamente no horizonte acima de
mim, e aos pouco percebi em qual lugar estava.
Era uma
ilha.
E,
desconfortavelmente, eu me adaptei a ela. Não havia mais ninguém ali além de
mim. Com o passar dos dias, fiz descobertas sobre quem eu realmente era. Ninguém
mais se aproximaria da ilha que me tornei.