sexta-feira, 3 de março de 2017

Insular

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Transcendi todas as leis da física naquele momento, disso eu havia certeza. Momento esse em que fechei os meus olhos e fui teletransportado: mental e fisicamente. Ao abrir os olhos novamente, só conseguia enxergar os teus. Vagueei na imensidão infinda do teu olhar enquanto ouvia as ondas quebrando nas rochas.

Estava descalço e sem blusa, mas nada mais importava quando a verdade era que estava com a alma desnuda. Não fazia diferença alguma vestir ou não aquelas roupas. Não fazia sentido rotular tudo, e refutava todo e qualquer lampejo de pensamento sobre isso. Entretanto, gravados em seu coração, carregava duas metades que brigavam constantemente: a primeira era cheia daquilo que “um dia poderia ter sido”; e a segunda transbordava esperanças vãs de um dia ainda tê-la consigo. Eu sou o caos.

Dia após dia, pegava-se com aquelas duas metades fundidas numa confusão mental. Era subversivo ir contra isso. Eu devo ser subversivo. Percebi tarde demais que o teu abraço era um santuário pra minh’alma repousar. E o que eu fiz com isso? Disparei em retirada como se a minha vida dependesse dessa fuga. E o que eu faço com o que me tornei? Fugir já não é mais uma opção. Desculpa o egoísmo, mas eu penso se você acreditou que todas as tentativas de te ter comigo mais uma vez foram reais. Já revivi essa novela várias e várias vezes na busca de alguma solução. Felizmente ou infelizmente, entendi que a solução não era essa.

Abri os olhos e realmente enxergava os teus. A areia em minha pele causava uma sensação engraçada e gostosa de formigamento. Teus olhos e a tua boca me contaram as melhores histórias que um dia eu sequer cheguei a imaginar. Os levava sempre comigo. Consegui me levantar aos poucos. Os pássaros voavam tranquilamente no horizonte acima de mim, e aos pouco percebi em qual lugar estava.

Era uma ilha.

E, desconfortavelmente, eu me adaptei a ela. Não havia mais ninguém ali além de mim. Com o passar dos dias, fiz descobertas sobre quem eu realmente era. Ninguém mais se aproximaria da ilha que me tornei.

Insular.