O horizonte já anunciava o nascer duma nova manhã.
Olhei por entre os galhos daquela árvore solitária e fui atingido por uma
epifania que me trouxe paz: aquela que sempre me violava e preenchia ao acordar
e te ver dormindo ao meu lado ou quando eu acordava e você abria aquele sorriso
que me desestabiliza até hoje. Aquele gradiente pretazul ilustrou esse momento.
O relógio marcava 5:20 da manhã e eu era tomado por
uma sensação de infinidade finita. As vidas continuavam dentro das casas ao meu
redor: por trás daquelas portas, muros e portões, pessoas despidas de pudor
amavam-se naquele exato instante. Em alguma daquelas casas, o cheiro de café
sendo preparado tomava conta da cozinha e dos quartos. Um despertador tocava
num canto do quarto alertando que era hora de trabalhar. Um cigarro era acesso
para acalmar a ansiedade. Os carros eram conduzidos por pessoas recém-saídas de
seus infinitos particulares. Eu apenas confabulava em silêncio com o universo.
Uma a uma, as luzes dos postes eram desligadas.
O tempo estava muito ameno pruma cidade em que o
calor reinava. Ao entrar em contato com a minha epiderme, o vento leve e gélido
me fazia estremecer. Não soube como enxerguei tudo aquilo antes, mas meus olhos
estavam fechados. Fui despertando desse transe quando o sol começou a lançar os
seus primeiros raios ultravioletas em mim. Abri os olhos e estava sorrindo.
Saquei o telefone e tirei algumas fotos. Eternizei
mais uma das infinitas memórias que me remetem a você. Comecei a andar na
direção contrária da árvore. Avistei Júpiter em meu caminho. Segui a trilha, e
por mais que a vontade fosse olhar novamente para aquela árvore e me sentir em
casa, não pude fazê-lo.