domingo, 3 de fevereiro de 2013

Cilada

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Dentre as coisas que estavam no quarto, o pôster dos Beatles sorrindo e a playlist aleatória de AC/DC, pareciam casar com o momento. E no meio dessa bagunça, eles amavam-se. Não era somente sexo ou uma simples transa, tudo aquilo envolvia ares desconhecidos para ambos, uma certa magia que os tinha conectado e os unia de diferentes formas. Os movimentos não ensaiados iam e viam acompanhados de leves tremores de doses de prazer. Aquilo percorria todos os seus corpos e os atingia, deixando os protagonistas anestesiados do mundo lá fora. Sua fantasia de mulher-gato o levava diretamente prum lugar paralelo e cheio de mistérios prontos para ser revelados quando cada parte da roupa fosse deixada de lado, mas não da forma convencional... Devagar, foi beijando a sua boca, sussurrando em seu ouvido e a arrepiando quando roçava de leve o seu cavanhaque na nuca da mulher-gato. Do pescoço, os beijos foram descendo e descendo, chegando até a ilha do prazer. Lá, a despiu com a boca, sem usar as mãos. E os corações batiam “TUM, tum, TUM” num compasso leve, quase como uma nota afinada sendo testada. Os movimentos que inicialmente eram calmos e ritmados evoluíram. Já não podia saber quem era quem, pois havia um emaranhado de dois corpos e várias mãos que quem entrasse naquele momento, não teria reação. O momento demorou muito tempo, mas pareceu que voou e o desejo deles era ainda maior. Ele não aguentou.
Ela deitou-se ao seu lado, com a pele cor de neve levemente avermelhada, nua, com o suor de seu amado se unindo ao seu e exalando aquele desejo insaciável por ele. Por um tempo que nenhum soube dizer se foram horas, minutos ou segundos, ambos ficaram curtindo o nirvana que ali existia. Tinham muita coisa para falar, contudo, a comunicação visual que faziam era o que precisam saber um sobre o outro. Sabiam que aquilo que estava acontecendo era a maior cilada mágica que acontecera com os dois. Estavam perdidamente localizados um no outro. Sabiam que o tempo os controlava e jogava com eles, deixando tudo mais mágico ainda. Às vezes é necessário abster-se de certos prazeres para que quando se permitir, não falte mais nada. Não é dosar homeopaticamente, mas saber como deixar um pouco de si naquele corpo, deixar saudade e motivos pra voltar. O quadro dos Beatles continuava sorrindo e os dois sabiam que estavam sorrindo para eles. E a hora de ir embora havia passado. Aquele momento era o mais difícil e parecia duradouro. Sem querer, escolhemos enxergar apenas a pior parte de tudo. A despedida era o início de outro ciclo que os uniria novamente. Deixou alguma coisa em sua casa, levou outra para a sua. Teriam mais motivos para o reencontro, mais motivos para se perder em terras desconhecidas. Ficaram abraçados como se as suas vidas dependessem daquilo. Tudo era paz e nada mais existia. Um beijo na testa de sua amada e ele se foi. Já esperavam a volta ansiosamente.