domingo, 13 de maio de 2012

Vingança

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Na sujeira da sua ex-muralha, o desejo de vingança flutuava e cegava-o; um surdo-e-mudo por brincadeira do destino. No sofá da sala, a moça estava estática com aquele brutamonte em sua intimidade. Ele, sujeito da vida, buscava o prazer naquelas curvas que um dia foram cheias de charme e desavenças. Quando o líquido transparente foi expelido, simplesmente deixou-se cair ao lado do cadáver e cochilou até o luar entrar pela janela aberta e o acordar. Com as vestimentas dum verdadeiro corvo, olhou para o relógio na parede rachada e uma súbita vontade de matar entrou no seu pobre coração.


O frio da chave de sua Harley-Davidson o trouxe calafrios, mas mesmo assim, deu partida e começou a cantar mentalmente para afastar os demônios que a noite guardava. A cidade estava tão escura que ele pensou que outro furação passara por ali. A baixa luminosidade das vielas dava o tom obscuro perfeito para o assassino obter êxito na sua caçada. O plano perfeito estava para entrar em ação. Apenas alguns minutos... No final da rua, a casa azul destacava-se pela beleza incomum naquele pobre bairro. Desceu de sua Harley e pôs-se em movimento quando um refrão o atingiu: “I've got to break free...


Na fechadura da porta de madeira preta, usou suas táticas de bandido, abrindo-a após poucos segundos e entrou na sala, desejando saciar sua sede de sangue. Sorrateiramente, caminhou pela sala e checando todas as portas que ali havia, subiu as escadas e olhou fixamente para a única porta que estava no final do corredor iluminado por candelabros tortos nas paredes. Empurrou a porta dum modo tão silencioso, que por um instante, ouviu apenas a sua leve respiração e a do homem que matara sua mãe.


O gosto da bílis encheu a sua boca assim que a imagem do homem debruçado apenas de cueca no colchão entrou em foco. O ódio que sentiu limpou as dúvidas que poderia ter naquele momento. Um breve resumo mental entrou em foco: os sorrisos da mãe; os amigos de escola; momentos felizes... o assassinato de sua mãe e o início da metamorfose animalesca da sua alma. Sacou a faca e, depositando toda a sua fúria, desferiu um golpe no pescoço de porco do homem. O futuro morto abriu os olhos e lágrimas caíram, mas não havia mais nada pra ser feito.


Descendo as escadas, deparou-se com uma jovem fechando a porta da sala. A filha do otário pensou. Com a faca na mão, o deleite sanguinário confortou o seu ego mais uma vez na noite.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Transcendente

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O instinto humano é inquestionável.
Frágil diante do medo, a essência da alma é exibida.
Não há saída para as dores, nem para os amores,
É fugir para não deixar-se levar.


E ali estavam os nossos protagonistas: na decadência humana.
Não havia sensibilidade pelo objetivo. A caça era tudo.
O lamento chegava a ser estúpido.
Truísmo.


A perseguição não durou mais que alguns tremores corporais.
Sempre as mesmas palavras e lamentos.
O uivo final!


Observando o tesouro vermelho pelas fendas distintas,
A alma da vítima era derramada de suas presas. O final decadente.
O que merecemos.