domingo, 18 de agosto de 2013

Relato duma ferida pulsante

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Espiei por trás da parede por um tempo que não soube contabilizar, mas duma coisa eu não tive dúvidas: ela ainda estava lá, indo embora. Forcei a visão até que uma vertigem me atacou e por um momento, ela já não estava mais lá. Quando me recuperei, descobri que ela estava dentro de mim, na minha pele, pulsando como se eu fosse o caos. E eu gritei! Gritei como se o mundo dependesse do meu esforço, só que de nada adiantou. Lembro que depois de muito tempo, ela continuava em mim, só que dessa vez eu a suportava. A dor, contudo, virou uma ferida de tanto doer. Em todos os lugares que eu estava, ela também estava lá, desde o trecho duma música qualquer até uma nuvem no céu nublado. Os bons momentos quando já não podem mais ser compartilhados com alguém, eles viram apenas instrumentos de tortura mental chamado lembranças. As lembranças, por sua vez, te trazem um atordoamento cheio de perguntas e vontades que não podem mais tornarem-se realidade. Talvez eu seja um caos mesmo. Não poderei mais acordar antes dela e fica lá, olhando ela dormir profundamente, como um anjo. Não terei mais as DRs mais engraçadas da minha vida, que sempre acabavam com um “te sento a mão na cara, menino”. Ah... Algumas coisas por estarem subentendidas, não precisam ser ditas ou escritas. Ao menos, era pra ser assim. E lá, num lugar remoto rodeado por outras feridas não menos pulsantes quanto a minha, eu continuava. A ferida morreu.

- Encare como se eu não fosse voltar, sem otimismo.

- Eu sinto que agora você precisa de mim o tanto quanto eu preciso de ti.

- O que eu te pedi ?

- Eu sei...