Espiei
por trás da parede por um tempo que não soube contabilizar, mas duma coisa eu
não tive dúvidas: ela ainda estava lá, indo embora. Forcei a visão até que uma
vertigem me atacou e por um momento, ela já não estava mais lá. Quando me
recuperei, descobri que ela estava dentro de mim, na minha pele, pulsando como
se eu fosse o caos. E eu gritei! Gritei como se o mundo dependesse do meu
esforço, só que de nada adiantou. Lembro que depois de muito tempo, ela
continuava em mim, só que dessa vez eu a suportava. A dor, contudo, virou uma
ferida de tanto doer. Em todos os lugares que eu estava, ela também estava lá,
desde o trecho duma música qualquer até uma nuvem no céu nublado. Os bons
momentos quando já não podem mais ser compartilhados com alguém, eles viram
apenas instrumentos de tortura mental chamado lembranças. As lembranças, por
sua vez, te trazem um atordoamento cheio de perguntas e vontades que não podem
mais tornarem-se realidade. Talvez eu seja um caos mesmo. Não poderei mais
acordar antes dela e fica lá, olhando ela dormir profundamente, como um anjo.
Não terei mais as DRs mais engraçadas da minha vida, que sempre acabavam com um
“te sento a mão na cara, menino”. Ah... Algumas coisas por estarem
subentendidas, não precisam ser ditas ou escritas. Ao menos, era pra ser assim.
E lá, num lugar remoto rodeado por outras feridas não menos pulsantes quanto a
minha, eu continuava. A ferida morreu.
- Encare como se eu não fosse voltar, sem otimismo.
- Eu sinto que agora você precisa de mim o tanto quanto eu preciso de ti.
- O que eu te pedi ?
- Eu sei...