segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Há uma luz que nunca se apaga

Lia os devaneios salpicados na parede do quarto, juntamente com desenhos que não faziam muito sentido caso não os considerasse como arte abstrata. Não colocava data em seus escritos: gostava de lembrar qual sentimento estava martelando ao ter escrito aquilo. Escrever era transcender todas as barreiras que existiam entre o seu cérebro e o ato de contar tudo aquilo que se passava lá dentro.

Olhou para o caderno em suas mãos, caderno esse que menos da metade das folhas estavam em branco. Quase que mecanicamente, releu -pela nonagésima vez- o que acabara de escrever:

Cientificamente, o preto é a ausência de luz; mas esse conceito não se aplica ao rombo escuro que a tua partida causou. Tudo foi desvanecendo aos poucos, e senti que poderia ter caído em sono profundo sem me importar muito com as consequências. Ainda sinto, e sinto muito. 
Ao sair - pela última vez - do meu campo de visão, sequer imaginava o tamanho que a tua falta ocuparia aqui dentro de mim. Os teus olhinhos de ressaca entrecortados pelas grades do portão ficaram tatuados na minha alma. Montei na moto e tive que partir... Que tolo! A tua ausência me transbordou. 
Às vezes, o amor se despede. A gente fica naquela neura de como isso pôde acontecer e em busca de infinitas soluções. Felizmente ou infelizmente, nem sempre o sentimento pode ser levado em consideração quando as coisas atingem um ponto crítico. E, é difícil. Se sentir "sei lá" é doloroso. 
O cômodo da saudade é claustrofóbico. Aqui nele, tudo é escuro e não há móveis: é possível ouvir teus passos e a tua voz me contando sobre todos os nossos momentos juntos. Cada fodendo lembrança dessa, desde a melhor até a pior, é gravada, a sangue frio, em minh'alma. 
A tua luz foi o meu guia. Grato por ter sido banhado pelo teu prisma de energias positivas. Gratidão por ter conhecido uma pessoa única no espaço-tempo enquanto o nosso espaço-tempo foi vivido (intensamente). Grato por saber que a evolução é constante e seremos melhores do que o que fomos no passado e do que somos hoje. Há muito o que ser dito, e mais ainda a ser ouvido e sentido. 
Vai pela sombra da calmaria e com paz no coração. Que a luz verde esteja sempre contigo. Sou grato por você.

Fechou o caderno rapidamente e o baque seco ficou ecoando pelo resto do quarto por um bom tempo. Percebeu que estava chorando quando sentiu as lágrimas quentes escorrerem por entre as mãos. Fechou os olhos para organizar as ideias e a viu: estava sorrindo com os seus olhinhos pelos quais ele seria eternamente apaixonado. Pegou o seu discman, colocou os fones de ouvido e apertou no aleatório. Tocava The Smiths e ele dançou.

1 trocas:

Anônimo disse...

Lindo texto. Bem saudosista!!

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